segunda-feira, 23 de julho de 2012

Os Embreantes


CAUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea: Uma Introdução. Anne Cauquelin. São Paulo: Martins, 2005.

A escritora Anne Cauquelin é crítica de arte e autora de diversos livros sobre a arte contemporânea. Professora emérita da Universidade de Picardie, Cauquelin também é diretora da Nouvelle Revue de D´Esthétique, vice-presidente da Sociedade Francesa de Estética e marca presença nos comitês de redação das revistas mais significativas do meio da Arte. 1

No capítulo I, “Os Embreantes”, da segunda parte do livro “Arte Contemporânea: Uma Introdução”, Cauquelin trata de questões da Arte Contemporânea e como a mesma se relaciona com a época, o meio e o mercado. Destacando como “embreantes”, não vanguardistas mas sim singulares, três pessoas envolvidas com o meio da arte que souberam captar e usufruir da mesma; Marcel Duchamp, Andy Warhol e Leo Castelli.

Segundo Cauquelin, esses embreantes, anteveem o que já se anunciava no meio da arte: a arte como uma esfera de atividades como qualquer outra, os papeis dos agentes envolvidos no meio não são mais estabelecidos, abandono dos movimentos de vanguarda e do romantismo da figura ‘artista’, a arte não é mais emoção, ela é pensada através de signos afim de construir um diálogo observador/observado. Cauquelin cita o caso de Duchamp:

Essa ruptura não é uma oposição, que estaria ligada à sua antítese seguindo uma cadeia causal, mas, sim, um deslocamento de domínio. A arte não é mais para ele uma questão de conteúdos (formas, cores, visões, interpretações da realidade, maneira ou estilo), mas de continente. [...] (CAUQUELIN, 2005, pág. 92)

Cauquelin traz a discussão o “estilo” de Warhol, um publicitário que percebe que a arte é apenas mais um meio de mercado, abandona a estética, se infiltra na rede de comunicação da arte, usa a repetição ou tautologia e paradoxalmente vende um produto que é ele mesmo. Caracteriza o artista Warhol em:

O percurso sonhado por Andy Warhol – passar do status de artista comercial ao de artista de negócios – está completo. No caminho, fechou-se também a definição de arte contemporânea – fora da subjetividade, fora da expressividade – na qualidade de sistema de signos circulando dentro das redes. Definição estrita, quase insuportável em seu rigor. (CAUQUELIN, 2005, pág. 120)

O terceiro embreante que Cauquelin discuti é o galerista Castelli, que viu na arte um ótimo investimento, um mercado promissor. Castelli pensa em alguns meios de como entender o mercado: manter-se informado sobre o que se passa no meio da arte mundial; deve-se ter um consenso entre galeristas, críticos, imprensa e envolvidos no meio; a associação de seu nome ao artista, eleva seu status e consequentemente seu nome; e elevar os artistas à um nível internacional. A autora cita a compreensão de Castelli:  

Assim, Leo Castelli compreendeu a lição das redes: não se pode ter apenas um, é preciso que eles todos se misturem e que se cubram uns aos outros As redes mundanas (mostrar-se em toda parte, estar em todos os eventos) têm tanta inportância quanto as redes mediáticas (sua cobertura é indispensável), e estas são, definitivamente, redes comerciais. (CAUQUELIN, 2005, pág. 125)

A crítica de arte, Anne Cauquelin expõe estes agentes do meio, por agregarem em suas ações, características do que ainda estava por vir e por serem nomes que ainda hoje causam impacto, pois, justamente é esta dualidade entre moderno e contemporâneo, a ruptura que permeia todos eles, esses embreantes.

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1 – Catraca Livre. Anne Cauquelin faz palestra no MuBE. Redação. Publicado em 17 Ago. 2010. Disponível em http://catracalivre.folha.uol.com.br/2010/08/anne-cauquelin-faz-palestra-no-mube/, acesso em 20 Set. 2011.

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