terça-feira, 24 de julho de 2012

O surrealismo – O último instantâneo da inteligência europeia


BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Walter Benedix Schönflies Benjamin nasceu no dia 15 de Julho de 1892 em Berlim e faleceu em Portbou, no dia 27 de setembro de 1940. Dentre suas principais atuações foi ensaísta, crítico de literatura, tradutor, filósofo e sociólogo da cultura, sendo um dos membros mais importantes da Escola de Frankfurt. Seus ideais se baseavam no materialismo marxista, o idealismo de Hegel e a mística judaica de Gershom Scholem. Seus escritos são: A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica (1936); Paris, Capital do século XIX (inacabado) e Teses Sobre o Conceito de História (1940). 1

O capítulo “O surrealismo – O último instantâneo da inteligência europeia” do livro “Magia e Técnica, Arte e Política” do escritor Walter Benajmin trata do surgimento do Surrealismo no ano de 1919 na França. Com o Pós-Primeira Guerra Mundial, a Europa “bebe” do úmido tédio, e da decadência francesa insurgem literatos que através do êxtase surrealista manifestam uma experiência revolucionária.

Segundo Walter Benjamin, o sonho é um mergulho na individualidade e ao mesmo tempo em que a embriaguez abala o Eu, proporciona aos escritores dessa época, uma experiência vívida que permite-lhes fugir da embriaguez. Esclarece em:

[...] Mas quem percebeu que as obras desse círculo não lidam com a literatura, e sim com outra coisa – manifestação, palavra, documento, bluff, falsificação, se se quiser, tudo menos literatura - , sabe também que são experiências que estão aqui em jogo, não teorias, e muito menos fantasmas. E essas experiências que não se limitam de modo algum ao sonho, ao haxixe e ao ópio. É um grande erro supor que só podemos conhecer das “experiências surrealistas” os êxtases religiosos ou os êxtases produzidos pela droga. [...] (BENJAMIN, 1994, pág. 23)

O surrealismo não investiga a personagem, mas sim os objetos que a rodeiam, onde um aprofundamento levantará questionamentos sobre a época, momento político e toda uma série de relações que permitirá outro olhar sobre a personagem. Como explica em:

[...] Esses autores compreenderam melhor que ninguém a relação entre esses objetos e a revolução. Antes desses videntes e intérpretes de sinais, ninguém havia percebido de que modo a miséria, não somente a social como a arquitetônica, a miséria dos interiores, as coisas escravizadas e escravizantes, transformavam em niilismo revolucionário. [...] (BENJAMIN, 1994, pág. 25)

Os surrealistas dispõem do conceito de liberdade dos moralistas e dos humanistas, pois, acreditam que a liberdade deve ser vivida em toda a sua plenitude, sem regras de como segui-la. “É a prova ao seu ver, de que “a causa de libertação da humanidade, em sua forma revolucionária mais simples (que é, no entanto, e por isso mesmo, a libertação mais total), é a única pela qual vale a pena lutar”.”, cita (BENJAMIN, 1994, pág. 32).

A proposta surrealista tendia a mobilizar todas as forças da embriaguez para a revolução, porém não é somente a embriaguez que fomenta uma revolução, embora seja um elemento anárquico, ela necessita de uma ótica dialética. Exemplifica:

Por exemplo, a investigação mais apaixonada dos fenômenos telepáticos nos ensina menos sobre a leitura (processo eminentemente telepático) que a iluminação profana da leitura pode ensinar-nos sobre os fenômenos telepáticos. Da mesma forma, a investigação mais apaixonada da embriaguez produzida pelo haxixe nos ensina menos sobre o pensamento (que é um narcótico eminente) que a iluminação profana do pensamento pode ensinar-nos sobre a embriaguez do haxixe. O homem que lê, que pensa, que espera, que se dedica à flânerie, pertence, do mesmo modo que o fumador de ópio, o sonhador e o ébrio, a galeria dos iluminados. E são iluminados mais profanos. Para não falar da mais terrível de todas as drogas – nós mesmos – que tomamos quando estamos sós. (BENJAMIN, 1994, pág. 33)

Na minha opinião, Walter Benjamin evidencia o quão livre era a poética surrealista, mas nada mais justo do que sonhar diante do trágico momento político que passava a França. Interessante o conceito de liberdade surrealista, que se colocassemos no papel e doutrinassemos dizendo que foi de tal forma, já não seria liberdade.
O uso da metáfora no surrealismo no sentido de falar de um objeto que representará uma personagem, permite uma experiência estética mais profunda no contexto de uma determinada cena.
No livro Walter Benjamin fala que somos uma droga, que mergulhamos em nós mesmos quando estamos sós. Concordo, pois, sozinhos somos bombardeados por questionamentos internos e a embriaguez vem de certa forma evacuar tudo isto a luz.



1 – Info Escola. Walter Benjamin. Texto de Ana Lucia Santana. Publicado em 15 Jul. 2008. Disponível em http://www.infoescola.com/biografias/walter-benjamin/, acesso em 30 Ago. 2011.

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