SACKS, Oliver. Um antropólogo em Marte: Sete histórias paradoxais. Companhia das Letras, São Paulo, 1995.
O londrino Oliver Sacks nasceu em 1933 e atualmente mora no EUA onde leciona no Albert Einstein College of Medicine (NY). Dentre seus livros estão: Tempo de despertar (que inspirou o filme homônimo com Robert de Niro e Robin Willians, e a peça A kind of Alaska, de Harold Pinter), Enxaqueca, O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, A ilha dos daltônicos e Vendo vozes.
Com sete histórias, o livro “Um antropólogo em Marte” fala de pessoas que pressionadas por situações-limites, podem ajudar-nos a compreender melhor o que somos. Segue abaixo a resenha do texto “Ver e não ver”, cap. 4, p. 123-164:
No capítulo “Ver e não ver”, o neurologista Oliver Sacks relata o paradoxal caso de um de seus pacientes que cego desde os 3 anos de idade, volta a enxergar aos 50. Com essa reviravolta o paciente Virgil, que até aquele momento só enxergava pelo tato e possuía apenas a noção de tempo, se encontra num processo de descoberta e por outro lado de sofrimento, pois, embora enxergue, seu cérebro não tem noção de espaço, só enxergando quando realmente toca objetos. Como não possui nenhuma memória visual, sua mente não distingue o que está vendo, vê cores, texturas, luzes, sombras, mas não sabe o que enxerga, “vê e não vê”.
O mundo que vemos não surgiu do nada à nossa frente, diferente do paciente Virgil, crescemos, experimentamos e conhecemos pouco à pouco nossa realidade através de todos os sentidos. Como cita (Sacks, 1995, p. 129):
Nós que nascemos com a visão mal podemos imaginar tal confusão. Já que, possuindo de nascença a totalidade dos sentidos e fazendo as correlações entre eles, um com o outro, criamos um mundo visível de início, um mundo de objetos, conceitos e sentidos visuais. Quando abrimos nossos olhos todas as manhãs, damos de cara com um mundo que passamos a vida aprendendo a ver.
“Era, antes, o comportamento de alguém mentalmente cego, ou agnósico -- capaz de ver, mas não de decifrar o que estava vendo.”, descreve (Sacks, 1995, p. 131), o comportamento de Virgil. Com a privação da visão, é natural que os outros sentidos agucem e o cérebro regule suas funções para obter melhor proveito da audição, tato, olfato e paladar, corroborando para uma inibição da parte de seu cérebro responsável pela visão.
A psicologia de Gestalt fala da questão “figura/fundo” e como assimilamos estas informações através das seguintes leis: pregnância, fechamento, similaridade ou semelhança, proximidade, continuidade e experiência passada. Não notamos esta percepção visual em Virgil, como relata (Sacks, 1995, p. 137):
Outros problemas se manifestaram ao longo do dia. Virgil pinçava detalhes incessantemente — um ângulo, uma quina, uma cor, um movimento —, mas não era capaz de sintetizá-los, de formar uma percepção complexa com uma passada de olhos. Esta era uma das razões por que o gato, visualmente, era tão enigmático: via a pata, o focinho, o rabo, uma orelha, mas não conseguia ver tudo junto, o gato como um todo.
Foto: albena.org
Foto do livro: livrosdownload.com
adorei a resenha do livro luh.. é dah facul?
ResponderExcluirou seu?
me empresta se puder^^