sábado, 5 de junho de 2010

Africanidade

O povo brasileiro foi formado pela influência europeia (grande parte pela lusitana), indígena e pela africana, e é sobre ela que vou falar hoje, seus costumes, crenças, línguas e traços culturais que estão entrelaçados em nós e que muitas vezes nem percebemos.
Mais uma vez vou usar como base uma áula do meu Curso de Folclore do Ponto de Cultura de Joanópolis com o projeto "Ora Viva São Gonçalo" que por sinal é excelente, cuja a palestrante do dia era Dilma de Melo Silva, professora da USP, grande pesquisadora da cultura brasileira.
Muitos caracterizam o continente africano como sendo um único país, mal sabem a variedade de povos que o continente abriga, são 54 países, cada um com uma identidade própria.
A escravidão no Brasil é dividida em 3 ciclos, cujo os quais marcam as chegadas de navios trazendo escravos para o nosso país:
1º Ciclo - Séc. XVI - 6 a 8 milhões de escravos vindos do Golfo da Guiné (região conhecida como Costa das Minas ou Costa do Ouro) por volta de 1530, trazidos pelos primeiros governadores gerais.2º Ciclo - Séc. XVII e XVIII - Povos de língua Bantu (cultuavam os ancestrais, a história da família), se concentraram principalmente em Minas Gerais, São Paulo e sul do país.
3º Ciclo - Séc. XIX - Povos de língua Iorubá (praticavam o culto aos Orixás) se concentraram na Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, outros povos que também vieram na época foram os Haussás (aqui chamados Malês) e os povos de língua Fon que se encaminharam para o Maranhão.
Bantu significa "os homens", os povos Bantus praticavam a agricultura, a cerâmica e a agropecuária.
Os Bantus sentiam um valor sagrado no ferro, sendo eles excelentes metalúrgicos.
Para eles existiam um mundo visível e um invisível e acreditavam em um Deus criador de tudo o qual não pertencia a nenhum desses mundos.
No Congo existiam 3 ordens: a aristocracia, homens livres e escravos, vejam que mesmo em seus país já existia a escravidão.
Ntu (pronuncia-se untu) na língua Bantu significa "o homem", o sílaba ba representa o plural, assim Bantu fica "os homens" ou "os seres humanos".
A filosofia Bantu é dividida em 4 partes:
1º Muntu - o ser humano, o mundo é formado por força vital e energia, as árvores, a água, nós, tudo energia em movimento.
2º Kintu - coisas inanimadas, energia coagulada, uma pedra, um tronco, objetos, nós movimentamos a energia contida nesses objetos, temos esse poder.
3º Huntu - tempo/espaço, energia ocupa espaço e se desgasta com o tempo, pura física.
4º Kuntu - beleza feiura, bom, verdadeiro, justo, nossos valores.
Os povos Bantus cultuavam os ancestrais, os egun (mortos) não vivem, mas existe a sua força vital a qual não desaparece, podemos fazer a comunicação entre o mundo não-visível (orun, língua Iorubá) e o mundo visível (aiyé, língua Iorubá).
A representação da vida da pessoa é circular, uma espiral, com etapas de ritos de passagens os quais são:
- Ritos iniciáticos do nascimento.
- Ritos iniciáticos de quando a criança completa 7 anos e recebe um nome.
- Ritos iniciáticos da puberdade, aos 14 anos.
- Ritos iniciáticos do casamento.
- Ritos iniciáticos de permanência no grupo.
- Ritos iniciáticos funerários.Os povos de língua Iorubá cultuavam os Orixás que são forças da natureza (trovão, maternidade, água, entre outros). No Brasil são 16 os Orixás cultuados, entre eles, Oxun, Yemanja e Olo Kun.
Ogun é o Orixá do ferro, da tecnologia, high tech, a comida oferecida a ele é a feijoada, prato que surgiu das sobras da carnes das casas grandes e que é hoje uma iguaria.
Exu é quem faz a comunicação entre os dois mundos, sua comida é a farofa, ele nos ensina a enxergar de várias maneiras, a verdade é relativa depende do ângulo que é vista.
O pesquisador francês Roger Bastide diz que para se entender o culto aos Orixás é preciso fazer a iniciação e se aprofundar no assunto, ele virou filho de Xangô.
Para os Iorubás Axé significa "energia, força vital" e a palavra Iorubá para "sol" é Tango que significa "tempo presente, horas", então quando querem saber que horas são, perguntam que sol é?
Assim como os Bantus, os Iorubás já haviam desenvolvido antes da chegada dos europeus a metalurgia, a escrita e moeda própria.Nas casas grandes os escravos eram mais cultos que seus senhores, já que liam e falavam árabe, estes eram os Haussás, Mouros (norte da África), designação para quem tem fé islâmica.
Muitos africanos escravizados que retornaram a sua terra, foram morar em Benin(Brasil) cuja capital do país é Porto Novo e a Libéria (liberdade) é formada por ex-escravos norte-americanos.
A Umbanda apareceu por volta das primeiras décadas do séc. XX em terreiros do Rio de Janeiro, sendo que no séc. XIX, pós 1888, já se faziam cultos, mas, não eram permitidos pela lei, a autorização só veio a ocorrer em 1889, pós Lei Áurea.
Na Umbanda há um sincretismo muito grande, onde vemos o cultos aos ancestrais como o Preto Velho e a Preta Velha, temos também o lado cristão ou católico com possibilidades de se usar santos e crenças da igreja e ainda pode haver um lado exotérico.
A Umbanda se assemelha a antropologia, no sentido da origem e evolução do homem, assim como grandes cientistas e pensadores das ciências sociais, por exemplo Spencer, Darwin, Comte, Durkheim, a Umbanda acredita no evolucionismo, do umbral (escuridão, trevas) encaminhado a luz.
Anima (alma), existem cursos para controlar a mediunidade, os missionários achavam que para os índios e os negros tudo se baseava na alma, interpretação errada, tudo é energia.
Fiscalizada por uma federação, a Umbanda é um culto hierárquico com controle e regras, o som deve ser baixo, a língua deve ser o português a mediunidade deve ser somente o Kardecismo de Alan Kardec agindo como elemento estruturante.O Candomblé é quase o oposto da Umbanda, não há influência cristã ou de alguma outra religião, não é hierarquia, o calendário de rituais iniciáticos e datas importantes são estipulados por eles mesmos havendo uma maior autonomia, não é aberto ao público só se você participar de uma iniciação para estar realmente "entrando de cabeça" no culto.
O Baba (pai) e a Iya (mãe) cuidam dos Orixás e Egun (mortos), sem incorporação e as línguas utilizadas são as Iorubá e Fun, culto que conserva mais a essência africana.O Umbandomblé é junção da Umbanda com o Candomblé.
Portanto, vemos aqui o quanto são numerosos e interessantes os dados sobre nossa africanidade, claro que as informações aqui apresentadas são muito básicas e para se aprofundar mais recomendo uma visita ao Museu da Língua Portuguesa onde vi algo sobre a língua desses povos e abaixo indicarei alguns livros e filmes, até mais.

Coleção percepções da diferença / Vários autores (Livros)
O povo brasileiro / Darcy Ribeiro (Livro)
O povo brasileiro / Baseado no livro de Darcy Ribeiro e Co-produzida pela TV Cultura, a GNT e a Fundar (Filme) http://www.youtube.com/watch?v=5Xz9pfxErQE
Atlântico negro - a rota dos Orixás / Renato Barbieri (Filme) http://www.youtube.com/watch?v=bQ_oTlAe0FI
Umbanda e Candomblé / Vagner Gonçalves (Livro)
O Ponto de Mutação / Fritjof Capra (Livro)
O Ponto de Mutação / Baseado no livro de Fritjof Capra e dirigido por Bernt Capra http://www.youtube.com/watch?v=oRmTFng6DCU (Filme)
O tao da física / Fritjof Capra (Livro)
La Philosophie Bantoue / Placide Tempels (Livro sem publicação em Português)
Bibliografia Afro http://www.religiosidadepopular.uaivip.com.br/bibliografiaafro.htm

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