O artista Silvio Alvarez de Joanópolis foi um dos expositores no V Festival de Cultura Tradicional Paulista - Entre Serras e Águas de Atibaia de 2012
Agregando toda a diversidade de tradições étnicas e religiosas, aconteceu do dia 05 a 08 de Janeiro o V Revelando Entre Serras e Águas de Atibaia no Parque Edmundo Zanoni. A festa abriga o que há de mais tradicional na cultura paulista, representada pelos bens imateriais: o artesanato, a culinária, entre outras tantas manifestações da cultura popular.
No estande de artesanato de Joanópolis, um dos expositores era o artista Silvio Alvarez que faz quadros utilizando colagem, em que cria cenas surrealistas com pequenos recortes de revistas.
Silvio Alvarez tem 45 anos, nasceu
Confira o Bate-Papo com Silvio Alvarez:
AC – Você tem esse contato com a arte desde criança?
SA – Não. Eu nunca poderia imaginar que eu seria artista plástico, porque eu não tenho nenhuma referência e também não sei desenhar nem pintar, e a gente acaba ligando a arte só a isto. Eu sempre gostei da área de cultura, gostava muito de música, fui trabalhar com teatro, fiz teatro infantil, mas eu sempre ficava mais nos bastidores do que provavelmente como artista. Acho que havia algo mal resolvido nisso, talvez fosse uma vontade que eu tinha que acabou sendo realizada também, eu não queria ficar atrás das cortinas, eu queria aparecer.
AC – Como foi essa nova empreitada de coordenar uma oficina para crianças?
AC – Quais outros benefícios a arte pode proporcionar as crianças?
SA – Tem outros componentes, tem a parte quando a criança usa a tesoura e também se vê criadora, ela tem ai todo um conteúdo pedagógico importante. Hoje, estamos cada vez mais ouvindo sobre arte terapia e a necessidade da criança ter referência artística, não só artes visuais, mas teatro, música. Outro dia eu ouvi de uma professora que há 20 anos promove um concurso cultural de crianças e ela me disse algo que acho muito importante, se uma criança toma contato com a arte desde cedo, ela tem uma chance maior de ser uma pessoa feliz.
AC – Qual a importância da arte?
SA – A arte está presente na vida do ser humano desde os primórdios, isso naturalmente, então deve ter uma razão importante para ela ter esse papel. Procuro também além de fazer meu trabalho, ligar tanto o conteúdo de sustentabilidade quanto o conteúdo terapêutico, eu dou oficinas para pós-graduandos em arte terapia, para a área de pedagogia, para professores, já dei uma oficina no Presídio de Viana no Espírito Santo, já dei oficina para dependentes químicos e em cada setor, em cada área, você vê que não é só a colagem, mas a arte tem um papel muito importante.
AC – Qual o papel do artista na sociedade?
SA – Talvez a arte e os artistas não estejam sendo bem aproveitados pela sociedade, porque o papel do artista tem que crescer cada vez mais e não só vender quadros, ele tem um papel social também, é importante reforçar sempre isso, principalmente junto as crianças. Eu procuro colocar nos meus quadros elementos lúdicos, elementos que remetem ao universo infantil, além de eu ser meio “crianção”, eu faço isso também pensando em atrair a criança para que ela se veja potencial criadora. Percebo que dá certo, porque a criança quando se vê retratada no quadro, ela vai tentar repetir em casa, na escola e nisso você está fazendo uma conexão da criança com a arte, pode parecer um pouco clichê, mas acho que isso numa escala maior, muita gente fazendo a mesma coisa, isso pode mudar muito a nossa sociedade.
AC – Há quanto tempo você dá aulas?
SA – Há uns quatro anos, mas hoje eu percebo que estou me profissionalizando cada vez mais. Eu escuto muito educadores, pedagogos e eu desenvolvi nesse ano de 2011, um projeto para a cola Pritt, em que eu criei um formato de oficina. Eu tinha que definir qual o tamanho que a criança ia fazer, em que tempo, como propor isso a ela e tudo isso foi apresentado para profissionais de pedagogia. Eles aprovaram o formato, me orientaram também, para que isso tivesse um respaldo profissional, porque eu sou artista plástico, eu não sou educador, mas percebo que a criança procura atividade manual, se ela não está fazendo mais é porque não estão dando referências a ela.
AC – Como é seu processo de produção de uma obra?
SA – O quadro vem pronto na minha cabeça, pelo menos a imagem que eu quero fazer, a cor do céu, a cor da vegetação, que elementos vai ter, já me vem o tema central na cabeça, depois eu preciso procurar as imagens nas revistas. Como eu tenho 15 mil revistas em casa, então quando eu vou procurar, procuro material para 20, 30 quadros de uma vez e já tiro tudo que eu preciso para não perder tempo.
Procuro todas as imagens que vão caber dentro do meu quadro, depois que tenho tudo selecionado, dou uma olhada nas páginas de revista que eu arranquei para ver o que vai e o que não vai, com tudo selecionado, recorto tudo e coloco em bandejas de isopor, separados por tamanho e cor para facilitar, e depois começo a colar. O que demora não é a colagem, eu fiz um quadro aqui em um dia, mas levo pelo menos uma semana para recortar todo o material e posso levar de um a dois anos selecionando figuras.
Tem um quadro que estou preparando agora que é uma releitura do “Jardim das Delícias” do Bosch e vai ter um metro e meio por um metro e meio. Já estou selecionando imagens há dois anos, por isso que não dá para você produzir muito, mas essa procura é importante, você procura uma imagem depois você acha outra melhor e troca.
SA – Eu tomei contato com a Arte Postal há três, quatros anos, mas nunca me interessei de fazer, porque talvez eu não entendesse bem a proposta. Sabia a história, sabia como é que funcionava, mas também acho que faltava oportunidade. Até que no Facebook e no Twitter que eu navego muito, começaram a aparecer muitas “convocatórias” e a primeira que eu aceitei veio da Bélgica, que me chamou a atenção porque era para apresentar o surrealismo para as crianças numa biblioteca. Achei bacana, porque meus quadros são surrealistas, pensei “vou participar”.
Depois que comecei eu não quis mais parar, participei no ano passado da Mostra Cinema em Diversidade do Cineclube
AC – Como a internet auxilia no seu trabalho?
SA – Não faz tanto tempo assim que comecei a lidar com a internet. Em 2004, me apresentaram o Orkut e nessa época eu ainda não tinha ideia de trabalho por essa rede social. Depois surgiu o Twitter e ele me mostrou que se você não estiver conectado, você está perdendo muitas oportunidades de negócios, quando falo negócios é palpável. Por exemplo, eu estou no Twitter a pessoa entra e escreve “gostei de tal quadro do seu site” e eu respondo por mensagem, ela me passa o e-mail, me manda um sinal ou as vezes o valor total do quadro numa grande confiança. Eu fico twitando das 8h da manhã até a hora de dormir, tudo o que faço publico no Twitter, até coisas pessoais de casa ponho no Facebook, e acho que as pessoas acabam te conhecendo um pouco.
A internet é importante porque ela rompe fronteiras. Hoje eu fotografo um quadro ou até o processo de criação e coloco na internet, quem está me seguindo no Twitter ou está no Facebook, está vendo na hora em outro país, do outro lado do mundo, é louco. Um dia eu estava na internet e uma revista de fotografia da França, entrou em contato em francês, apelei para o Google Translate, fiz uma entrevista em francês e até já saiu, se eu não estou na internet, eu nunca conseguiria isso, acho isso muito bacana. Eu costumo brincar que não sei como é que os outros artistas faziam na época que não tinha internet, porque você tinha essa proximidade com o público, só em exposição.
A internet também vai de encontro com uma ideia minha, eu acho que o caminho da arte é sua democratização, as exposições que eu realizei até hoje foram no metrô, no Terminal Rodoviário do Tietê. Hoje estamos aqui numa feira tradicional, isso é muito importante, a partir do momento que você tira a arte do museu e você leva para a criançada, para o público em geral, você está tirando aquela distância de que arte é uma coisa elitista de que tem que estar trancafiada no museu, porque ainda existe esse mito. O contato com arte também é muito recente, agora que o poder público, a iniciativa privada está colaborando para gente ter mais acesso. Eu tenho 45 anos e quando eu era moleque não me lembro de ter tanta opção assim, tanto que não me lembro na escola de ter ido a alguma Bienal ou no Masp.
AC – Quais são seus projetos para o futuro?
SA – Eu quero continuar fazendo oficina, porque eu vi que não vivo mais sem esse contato com a criançada, então eu quero potencializar isso, amplificar. Em abril sai meu primeiro livro como ilustrador que vai se chamar “Olhos da Terra” e é da escritora Ana Maria de Andrade, tem ilustrações minha e de um fotógrafo chamado Fábio Carnaval. No ano passado eu mandei quatro quadros para a feira Art Shopping do Carrousel do Louvre, foi em Outubro e iniciei todo um projeto para eu estar presente agora nesse ano. A ideia é ficar no Carrousel do Louvre durante três dias fazendo o que estou fazendo aqui, cortando, estou trabalhando para isso, tenho uma produtora cultural planejando essa empreitada que vou contar com o apoio das leis de incentivo e acho que vai ser importante também para você ver como que seu trabalho é visto fora do país.
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