sábado, 31 de dezembro de 2011

MP X LB



No dia 19 de Dezembro, um “dedo de prosa” sobre muito e sobre nada entre Matias Picón e Luiz Fernando Bueno.

MP – Agora eu vou perguntar umas coisas para você. Vamos virar um pouco essa coisa. Você está com o site faz quanto tempo?
LB – Um ano e alguns meses...
MP – Eu vi que você cobriu todo tipo de evento. Gostaria que você me falasse o que você nota de diferente quando você vem cobrir um evento aqui ou no Sarau do Manolo, ou em qualquer outro evento underground e quando você cobrir um evento no Centro de Convenções, não fazendo esse elitismo, separando, não estou te perguntando por isso. Qual a diferença do clima das pessoas, da receptividade que você tem como jornalista underground que você é?
LB – Acho que às vezes há uma burocracia maior. Digo no caso de entrevistar alguém famoso, por exemplo, você tem que agendar antes e já houve um vez de não conseguir entrevistar por causa do produtor, mas é raro acontecer. Aqui e no Sarau do Manolo é sossegado, a galera é sussa não tem esses...
MP – É nóis!
LB – É nóis!
Marcelo, o Veínho do Cartaz do show de despedida da Mutante

MP – Do seu ponto de vista, você acha que Galeria Mutante repercutiu?
LB – Uma das coisas que você disse, está aqui sua resposta, esses tramp os na parede são resultado. Repercutiu com certeza, muita gente começou a fazer, pode ser que não mudou a cabeça de todos na cidade, mas mudou a vida de algumas pessoas. Criou-se um cenário aqui na cidade que não tinha. Havia poucos trabalhos pelas ruas, mas nada muito consistente, igual a Mutante.
MP – O fato de não ter mais a galeria, não ter mais esse ponto de referência, o que você imagina que possa acontecer?
LB – O que eu imagino...
MP – Seja sincero...
LB – Eu não faço ideia cara, que pergunta difícil! Como você disse, você plantou sementes, acredito que talvez alguma dessas pessoas vão querer semear mais sementes. Não sei se conseguem abrir outro espaço como este. Sei que a Difusão talvez fosse um lugar onde a galera pudesse tentar, porque é um espaço aberto, onde ideias são sempre bem-vindas, mas dizer com certeza...
MP – Não estou falando com certeza, hipoteticamente...
LB – Não sei, posso te dizer que boto muita fé em Atibaia. Acredito que essa cidade tenha um potencial muito forte para a arte realmente e espero que com essa faculdade a galera comece a fazer coisas, e que não tenha uma Mutante véio, mas que tenha várias. Esse é meu sonho que tivesse várias Mutantes por ai.

MP – Você acha que a Mutante vira mito?
LB – Vira. Daqui a alguns anos vão falar da Mutante “Nossa! Tinha a Mutante, a primeira galeria underground de Atibaia!”.
MP – A minha meta é essa.
LB – Se não virar, vira na nossa boca. Vamos falar “Nossa, conheci a Mutante meu!”.
MP – Total, total
MP – Não vendo só o bate de rua, mas o cenário artístico, você acha que ele tem uma tendência a crescer em forma de mercado? Você que é um cara que presenciou o Salão de Artes, o Salão de Fotografia, o Sarau do Manolo, entendeu, você que está em todas, o que você acha?
LB – Hiperdifícil ein...
MP – É te peguei mano! Você achou que era só você que ia me entrevistar?
LB – Acho que falta um pouco de união, sabe, da galera que faz, de estar se unindo para fazer as coisas, mas vejo que há parcerias. Você já participou do Sarau do Manolo e a Galera do Manolo expõe aqui também, mas acho que falta uma integração maior, principalmente de outras turmas que não frequentam o nosso espaço, por exemplo, o pessoal do teatro. Mas assim, pouco a pouco vão acontecendo esses movimentos.
MP – Você acha que o Festival de Cinema influencia bem?
LB – Eu ia falar disso...
MP – Na minha opinião, o FAIA é muito legal que aconteça, mas eu boto mais fé no Curta. Porque tem uma pegada assim, eu fiz um filme aqui e ia levar para a faculdade e todo mundo diz “Não leva para o Curta!”, está se criando uma cultura. Hoje em dia as tecnologias estão ajudando demais, você pode ter sua camerazinha e fazer seu filme “pseudocultintelectual” e cara, você ter um espaço onde você pode projetar seu filme para um grande público, com uma qualidade boa, de cinema, isto é ótimo, extremamente louvável. Você chama quem para ir? Você chama teu vizinho, seu amigo, teu pai, tua mãe, tua vó e é todo mundo fazendo isso, se cria uma cultura de cinema incrível.
LB – É, e esse vai ter muito mais filmes, que tem uma galera nova produzindo, a Ingrid está com um filme ótimo... Luiz Fernando Bueno


MP – É tem a galera do curso da Difusão.
LB – A Ingrid chamou a Vânia que é do teatro, já está começando a integrar, isto que faz as coisas crescer.
MP – E o que você acha que falta para decolar?
LB – Apoio financeiro talvez...
MP – Discordo completamente de você...
LB – Para algumas coisas você precisa... Mas há exceções, eu dei aula de fotografia esse ano para uma galera que tinha Cyber-shot, igual a minha câmera, para um pessoal que tinha celular, não envolveu nenhum dinheiro porque trabalhamos só com o digital, nem revelamos, apesar que gostaria que revelasse, seria legal, mas rolou, fez resultado, eram três alunas apenas, mas diferença na vida delas.
MP – Por isso mesmo que eu acho que esse apoio financeiro, é meio perigoso falar isso. Vai mais um pouquinho de atitude, como eu te falei, comecei totalmente fudido, não tinha dinheiro para comprar spray, os caras me davam spray. Não é uma questão de apoio financeiro e sim de falar “Vamos fazer!”, não importa como. Se tem uma frase que eu aprendi quando comecei a mexer com arte com alguns malucos que são meus amigos hoje em dia, que é assim “Não importa como você faça, o importante é que você faça!”.
Matias Picón


LB – Não realmente você está certo. Porque no Sarau do Manolo houve uma reunião que eu já falei que independente de espaço vai continuar a ter sarau, não tem nem mais atabaque agora, só tem o povo mesmo...
MP – Só precisa disso velho, de material humano com disposição e atitude suficiente para fazer.
LB – Só não sei como fazer que isso chegue as outras pessoas, pois, é um grupo pequeno que faz isso na cidade...
MP – Mas cara, isso é histórico desde Sócrates...
LB – Sempre é...
MP – Sempre é...
LB – Só que hoje você pode ter escolha do que fazer ou não. Não é uma questão social, eu mesmo não tenho grana e faço coisas. Hoje temos mais abertura para estar fazendo coisas. Participo do Clube de Fotografia, eu não tenho dinheiro para expor, mas pelo menos faço parte, às vezes pagam para eu expor, dessa vez eu ganhei um concurso e minha foto está lá no Centro de Convenções...
MP – Entendi quando você fala em dinheiro é para ampliar...
LB – Por isso que digo que às vezes você precisa de grana...
MP – Cara, sempre é necessário, mas é algo muito discutível esse lance da economia...
LB – Sim a gente se vira sem grana, por mim eu faço minhas fotos 10X15 de boa, mas se você quiser entrar num salão, quiser entrar em algum lugar você vai ter que ter um pouco.
MP – Isto eu senti, quando você me perguntou sobre esse lance de Salão de Arte, as primeiras vezes que eu tentei entrar, lembro que mandei um negócio muito esculachado, mas na minha opinião estava excelente. Eu fiz o trabalho, mas segundo pessoas que estão nesse meio não estava. Se você manda um foto pequena o cara já não vai nem olhar. Ai que minha esposa Bia Raposo que está expondo aqui, ela me deu a luz. Tu tens que fotografar com um fotógrafo profissional seu trabalho, você tem que mandar um dossiê.
Eu fiz um investimento que me reembolsou, ai que saquei. Vamos supor, às vezes faço trabalhos com camadas de um papel bem acabado, isto é um investimento, comprar uma moldura de verdade para o seu trabalho. O que eu vejo na arte é que as coisas fogem a você e você tem que deixar que elas fujam de você, e deixar essas coisas nas mãos de pessoas que são profissionais naquilo. Por exemplo, para emoldurar, para ampliar, tem um cara que faz isso, se você fosse fazer talvez ficasse uma bosta, mas se você conseguir fazer, ótimo, você é um cara completo.
MP – Quando que acaba o site?
LB – Dia 17 de Janeiro.
MP – E ele sai do ar?
LB – Não. Só não continua a reabastecer.
MP – O que você acha que o site conseguiu atingir para a cidade?
LB – As pessoas principalmente.
MP – Você acha que ele pegou, que manteve a galera informada?
LB – Sim o site saiu em busca de todos os eventos realmente, não era só evento da Prefeitura, eram também eventos mais isolados, coletivos, eventos da cultura popular, não havia regras, só de que fosse um evento cultural. Agimos sem preconceitos, sem dinheiro, sem receber nada em troca praticamente, foram pouquíssimos apoios, o que manteve o site foi o Proac.
MP – Um negócio importante, vocês atingiram todas as camadas: o popular, evento da Prefeitura, evento “fluflú”, evento podrão, como aqui. Você acha que esse site conseguiu linkar essa galera de alguma forma? Eu entrando no site já vi coisas de outros rolês. Você acha que a pessoa do outro rolê consegue ver? Você acha que as pessoas conseguem ter esse interesse de entrar no site e ver coisas de outros mundos?
LB – Isso depende muito da pessoa, porque quando você abre a página, claro você vê outras matérias, mas você vai naquela que você quer ler. Tanto que tem as mais lidas, teve alguns tipos de matérias que nós vimos que já não rolava muito. As matérias de cultura popular mesmo, apesar de eu gostar muito de correr atrás, não tinham muito acesso. A galera gostava muito do FAIA, teve bastante acessos.
MP – Eu sou meio suspeito de falar, não sou aquele tipo de pessoa que entra no site e fica fuçando tudo. Olho e vejo, por exemplo, uma matéria de algum evento que gostaria de ter ido e não deu para ir, eu vejo assim.
LB – O que as pessoas falam é que foi o único site aqui na cidade que fez isto até hoje. Há muitos sites que só tiram fotos e fazem galeria, coluna social.
MP – Coluna Social?
LB – Você encontra uma galera no evento e fala “junta aí para eu tirar uma foto para o site!”.
MP – No site não tem isso.
LB – Não, eu só tiro foto de quem eu entrevisto, pessoas que falaram alguma coisa, tem um porquê dessas pessoas estarem lá.
MP – Não é nada do tipo “Pepa e Lola na festa curtindo muito”.
LB – “Cervan e Laura na Mutante”, não rolou isso. Sempre havia um aprofundamento naquilo que estava rolando. O que aconteceu? Quem são as pessoas envolvidas? Porque isso? Porque é para informar realmente, não é só para mostrar. Tem que se falar um pouco do que é tal espaço, para galera conhecer mesmo, para ver e se interessar. Acho que o Manolo vem crescendo muito por causa disso, por causa dessas divulgações que tem.
MP – Existiu essa galeria aqui, ela foi o pontapé inicial de muita coisa, inclusive quando a galera começou a se juntar, começou a se articular o Sarau. Começou aqui?
LB – Sim.
MP – A galera já se conhecia, mas começou a rolar essa interação mais forte, mais frequente, de estar toda semana aqui. Começou a rolar o Sarau, você acha que ele tem o poder de dar uma continuidade a todo o trabalho que foi feito aqui? Apesar de ser um sarau de poesia, que tem outro público, outra forma de trabalho.
LB – O Sarau do Manolo quer abranger tudo, mas dependo do espaço não cola, às vezes convidamos artistas, mas não aparecem, na Ilha do Manolo não está rolando muito artista visual, só o Diego expôs trabalhos da última vez. Acredito que o Sarau do Manolo vai continuar levando isso.
MP – O que rola muito do sarau, que é o que eu particularmente estou muito nessa, é de estar produzindo exposições, que é meu trabalho, estamos tocando o barco e meio que saímos um pouquinho. O que eu queria saber é isso, se há outra galera que vai tocar o barco?
LB – Se o Sarau do Manolo voltar para um espaço fechado vai estar mais fácil para a galera expor, também porque tem muita gente que está nessa pegada de coisa na parede.
MP – Não estou falando de exposição arte, estou falando do ato de você reunir pessoas duma área artística à noite?
LB – Vai, não posso te dizer que vai durar muitos anos, talvez dure só mais esse ano, mas nós podemos dizer que o Sarau do Manolo mudou a vida de muita gente esse ano, a galera se prepara para ir ao Sarau, vem gente de São Paulo para o Sarau. O Luiz Chamadoira sai de São Paulo só para o Sarau do Manolo. Eu também já trouxe muita gente de São Paulo para expor para o Sarau, a Elfi, o Luciano, teve o Daniel quando foi lá na Difusão e Janeiro também vem uma turma legal ai. Um dos grandes feitos do Sarau foi aquilo no Cine Itá.
MP – Foi fodah neh!
LB – Foi marcante, sabe aquilo de virar mito, isso vai virar mito. Foi uma ocupação muito legal, rolou performance, sem mandar a galera estava lá, uma mina que já fez performance em Portugal, estava lá fazendo performance. A Anna Tominori que participou do Salão de Artes também fez performance, então foi um dos saraus em que mais fruiu as coisas. Houve muita movimentação, umas 100 pessoas passaram por lá. Seu trabalho também estava lá.
MP – Eu fiz questão de participar, rolou o primeiro e eu participei do segundo. Mas é isso cara, uma ideia geral que eu tenho é que as coisas tem começo, meio e fim. Rolou o Sarau aqui, pronto, não tem porque ficar esticando. Aconteceu uma galeria de street art em Atibaia, aconteceu. Não tem porque ficar esticando chiclete, que aconteçam novas coisas, novos contextos, novas ideias, que não fique estancado. Tem uma música do Sonora Scotch, que é minha banda, que fala justamente disso, que as pulgas não te comem se você está sempre em movimento, se você estagnar vai chegar um monte de pulga e vão te arregaçar. Não tem mais nada.
LB – Acabou sua parte da tortura? Acabou a fita também...

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