sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Mulheres entre Aiatolás

Caminhando pela rua, uma mulher atira seu véu ao vento, as pessoas se chocam ao vê-la, cortam sua garganta ao preferirem encará-la, a cena de uma mulher tirando o véu talvez aparente ser algo casual para nós, mas, no caso citado estamos falando do Irã em 1830, onde uma poetisa foi a primeira mulher a realizar tal ato corajoso.
No dia 15 de Agosto, estive na 21ª Bienal do Livro de São Paulo (que vai de 12 a 22 de Agosto), no qual tive a honra de assistir a um debate com a iraniana Azar Nafisi (escritora e acima de tudo, uma sonhadora), a jornalista Márcia Camargos e a jornalista Adriana Carranca, o debate girou em torno de que como a mulher é tratada no Irã e a ideia deturpada que temos deste país, com base nesta maravilhosa experiência, relato-lhes agora o que aprendi.
Ao questionada sobre de que forma o Irã é pintado em seus livros, Azar diz que, o Irã passou por um regime tirânico e um regime assim segue três passos:
1º Tiram sua realidade, quando pensam em Irã não pensam em seus 300 anos de história, pensam em Mahmoud Ahmadinejad.
2º Tiram sua história, pois, a história pode ser perigosa, "O que é mais verdadeiro do que a história" (Isabel Allende), cita Azar, a história sempre diz a verdade, pela primeira vez o mundo está descobrindo que o povo iraniano é como nós, "Todos nós sangramos" (Shakespeare ao se referir a igualdade das mulheres), "As histórias estarão sempre aí, sem elas o mundo ficaria um completo silêncio" (Azar Nafisi).
3º Tiram sua cultura (o desenho Popeye é proibido no Irã, pois, Olívia não é casada com ele e os livros de Dan Brown também), quando o fazem tiram nossa imaginação, a política formula tudo e ficamos com preguiça de questionar, neste momento a curiosidade pode ser a melhor arma para a insubordinação. As mulheres sempre foram o primeiro alvo da tirania, pessoas diferentes, atacam os poetas, aqueles que tem imaginação, que dão sonhos, "Ambos os meus livros são uma celebração da imaginação" (Azar Nafisi).
Segundo Márcia, os iranianos são muito simpáticos e amorosos, nada daquele estereótipo de homem-bomba, pois, quando se fala em Irã logo só pensam em aiatolás, confundem com Palestina e pensam ser um país árabe quando na verdade é persa, as mulheres usam um lenço na cabeça e uma característica das jovens é que o colocam bem para trás mostrando parte do cabelo, este é o Irã, berço da civilização com uma história milenar.
Adrina diz que os jovens iranianos de hoje não pegaram a revolução e isto pode ser uma bomba a explodir, os aiatolás tem medo destes jovens, as mulheres decidem usar o véu ou não, decidem sua vida, o véu é uma escolha.
Para Nafisi, os fundamentalistas não são os piores, os fascistas foram extremamente cruéis e quando questionada sobre a literatura persa, comenta ser muito vasta e que todos tem o direito de ler, de ler bons livros.
O Irã está criando uma mudança no mundo, é preciso mudar a mentalidade para não tolerar tiranos, não podemos deixar que tirem nossa voz, passado e realidade.
Em 2009, o povo iraniano foi a rua protestar contra o resultado das eleições, tratados com violência por causa do medo do ecoar de suas vozes, sem armas, apenas palavras, "A mudança vai vir de dentro" (Azar Nafisi).
Concluindo, Azar em sua língua significa Dezembro no calendário Zoroastro (o qual o governo proíbe) e é o Deus do Fogo, em nossa língua designa má sorte (a autora até comentou que se sentiu muito triste ao saber disso), mas, apesar do significado em português sabemos o quão sortudos fomos ao tê-la em nosso país.

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