No último sábado, dia 21 de Agosto, ocorreu no Espaço Café no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, o 7º Fórum das Coisas do Arco da Velha e consequentemente nossa Áula de Folclore, no dia estavam presentes Valter Cassalho, Neide Rodrigues, Lilian Vogel, Toninho Macedo, Maria do Rosário e Oswaldo Guimarães, além de variados grupos folclóricos, abaixo segue a programação do que ocorreu no evento, seu objetivo e conceito, além de um texto baseado na palestra de Valter Cassalho (Fundador e Presidente da Associação dos Criadores de Lobisomem - 1998), o qual falou sobre a importância do mito para a sociedade e contou algumas lendas.
"O FÓRUM DE COISAS DO ARCO DA VELHA surgiu em Joanópolis (Capital da Lobisomem) através do Núcleo de Folclore Pé da Serra (Comissão Paulista de Folclore) e Associação dos Criadores de Lobisomens com a finalidade de discutir, valorizar e divulgar a cultura brasileira, com seus mitos e assombrações e outros costumes que fazem parte do nosso folclore. O Fórum já realizado em outras cidades da região, agora em sua sétima edição chega a capital paulista com uma variada programação. Confira:
PROGRAMAÇÃO
8h30 – Credenciamento.
9h – Abertura oficial.
9h15 – Palestra: “Mitos e lendas da região bragantina”, pelo prof. Valter Cassalho (Comissão Paulista de Folclore).
O Lobisomem, o turismo do imaginário e a valorização do diálogo
O lobisomem gerou uma indústria, hoje em Joanópolis-SP existem diversos produtos com a marca do lobisomem e muitos visitam a cidade em busca de encontrar seus medos (Cassalho dá o exemplo das Noites do Terror do Playcenter onde pagamos para levar susto), isto é o Turismo do Imaginário, o artesanato e contar histórias, estas são algumas formas de obter um aproveitamento do folclore.
Xamãs, pajés, feiticeiros, diabo, religião, negro, índio e o caipira, o folclore os mistura e dá origem a toda essa riqueza cultural que o país possui, nas escolas vemos as comemorações do Dia do Haloween (festa folclórica tipicamente americana) e se esquecem de olhar para o que temos, "Trocamos nossa riqueza por um enlatado norte-americano", diz Cassalho.
Uma reinterpretação do folclore, mudar o mito e agregar novas características é extremamente importante para manter o mito vivo, veja o lobisomem de Joanópolis que agora até tem filho.
Foram-se os tempos em que no interior sentávamos a beira do fogão-à-lenha e ouvíamos histórias até altas horas da noite ou mesmo na capital, quando todos jantavam juntos e conversavam sobre o nosso dia, a televisão e o computador apesar de serem meios de comunicação desvalorizaram o diálogo, fator principal para criarmos laços afetivos com a pessoas com quem convivemos, agregar valores e fortalecer o fio condutor da vida."O medo é o pai dos mitos", diz Cassalho, seguem abaixo duas lendas.
Numa sexta-feira, beirando a meia-noite, uma mulher resolve ir visitar sua mãe, pega seu filho, chama seu marido e mesmo receosos pelo horário, caminham pela floresta até o sítio da mãe.
No meio do caminho o marido sente uma dor de barriga e corre para o mato, de repente surgi um lobisomem e começa a perseguir a mulher que sobe em uma porteira, o lobisomem golpeia o ar e rasga a baeta que cobre o bebê (que ainda não era batizado) e corre para a floresta, algum tempo depois surgi o marido com fiapos entre os dentes.
Função Social: Para as crianças serem batizadas, criou-se o mito de que se não as fossem, virariam lobisomem.
A Porca-de-Sete-Leitões
Com grande frequência, via-se em um vilarejo um animal estranho grunhindo e correndo junto a seus filhotes.
Quita, vivia sozinha desde seus vinte anos, embora usa-se ervas e mandingas que ela mesma fazia como anticoncepcionais, a cada tempos aparecia "de barriga", mas, que logo sumia usando de seus métodos abortivos.
Certa vez Quita em um aborto mal-sucedido estava num estado gravíssimo, uma parteira e um rapaz ao verem que nada mais podiam fazer resolvem levá-la a um médico.
Uma carruagem corre à toda pela estrada e no meio do caminho surge uma porca preta, seguida por sete leitões, no meio da confusão Quita some, a porteira a procura e o rapaz ao ver que aquilo era "coisa do demo", pega a parteira e foge dali.
Por isso, muito cuidado ao sair a sexta-feira à meia-noite, pois, além de correr o risco de encontrar com um lobisomem ainda pode se deparar com os terríveis grunhidos da Porca-de-sete-leitões.
Função Social: Assim como o mito de que criança jogada ao rio vira Boitatá, a Porca-de-Sete-Leitões vem como castigo para quem pratica abortos."A porca-dos-sete-leitões ocorre principalmente nas regiões centrais e meridionais do Brasil. Aparece durante à madrugada, em locais escuros e ermos: ruas desertas, becos, encruzilhadas, adros de igreja. Ronca surdamente, sempre acompanhadas de seus sete filhotinhos berrando ao seu redor.
Não faz mal a ninguém. Em algumas versões, tem preferência em assombrar homens casados que voltam para casa fora de hora. Se a vítima se volta para encará-la, a mãe e os filhotes desaparecem. Segundos depois, torna a aparecer e a sumir novamente.
É mito originário de Portugal, onde acreditam ser o próprio diabo ou sua manifestação. Ainda no imaginário português, algumas vezes, a porca pode tomas a forma de outros animais.
Em várias culturas da Europa, "a Porca e os Sete Leitões" é um nome popular para o conjunto formado pela estrela Aldebarã e as Híades.
No Brasil, segundo a versão recolhida em Cuiabá, por Karl von den Steinen, é o castigo da mulher que interrompeu voluntariamente a gravidez. Tantos quantos forem os abortos, serão os leitões. Em algumas versões paulistas, é uma rainha que teve sete filhos e foram amaldiçoados por vingança de um feiticeiro.
Luís da Câmara Cascudo, em Dicionário do folclore brasileiro, sugere uma explicação: "A porca, símbolo clássico dos baixos apetites carnais, sexualidade, gula, imundície, surge inopinadamente diante dos freqüentadores dos bailes noturnos e locais de prazer"." http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/P%C3%A1gina_principal
Concluindo, Cassalho diz "Abram seus baús" e foi isso que foi feito no Arco da Velha, ouvimos lendas antigas ao redor da fogueira da curiosidade, confraternizamos com velhos amigos e com pessoas com as quais nunca falamos, botamos na prática a valorização do diálogo.
Lobisomem: Assombração e Realidade - Maria do Rosário (Livro)
*Obs.: No rodapé do blog seguem exposições de fotos e sempre tem dicas de eventos que estão por vir.