Vídeo: http://youtu.be/yySeV01MhKg
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Máscaras do Carnaval de Atibaia 2012 - Parte 3
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Máscaras do Carnaval de Atibaia 2012 - Parte 2
Confira mais um vídeo do processo: http://youtu.be/gTaG-bG5eOw
domingo, 22 de janeiro de 2012
Persistência e Dedicação
Com esculturas em argila, o jovem artista Guilherme de Morais foi um dos expositores no Revelando São Paulo de Atibaia 2012
Num verdadeiro caldeirão de tradições étnicas e religiosas, aconteceu do dia 05 a 08 de Janeiro o V Revelando Entre Serras e Águas de Atibaia no Parque Edmundo Zanoni. O evento abarca o que há de mais tradicional na cultura paulista, representada pelos bens imateriais: o artesanato, a culinária, entre outras tantas manifestações da cultura popular.
O artista Guilherme Barbosa de Morais tem 19 anos e mora na cidade de Piracaia – SP. Trabalha com esculturas em argila e veio representar sua cidade no estande de artesanato.
Guilherme Barbosa de Morais nasceu em Pernambuco e reside há três anos na cidade de Piracaia – SP. Trabalha com argila desde os nove anos junto ao pai e através dele, veio de Pernambuco para São Paulo em busca de ter uma condição de vida melhor. No início fazia animais em argila porque era guia turístico de sua cidade natal e atualmente produz esculturas de arte sacra. “Fui tomando gosto em trabalhar com argila porque vi que daquilo eu poderia ter uma vida independente e conseguir o dinheiro para sustentar minha própria família”, revela Guilherme de Morais.
Confira o Bate-Papo com Guilherme Barbosa de Morais:
LB – Você trabalhou como guia turístico em Pernambuco, como foi essa experiência?
GM – Com nove anos de idade, aos poucos eu ia fazendo bichinhos e mostrando os pontos turísticos que tinha na minha cidade. Minha cidade é chamada de “A terra do barro”, então 90% da população vive do artesanato. As pessoas de lá tem a opção de trabalhar na Prefeitura ou com artesanato. Como minha família vem passando de pai para filho essa relação com o artesanato, eu fui mais um na minha família que tomou o rumo de fazer esculturas. Hoje quero fazer uma faculdade para me especializar mais no que faço, para ir mais afundo e conhecer mais sobre arte sacra, para mais na frente eu poder conseguir ir dar aula com um histórico bom.
LB – Como a arte sacra se manifestou nas suas esculturas?
GM – Eu fiquei encantado pelas igrejas, as esculturas de quina de igreja e esse movimento que a gente consegue dar as peças, a pintura, por isso me encantei pelo Barroco. A escultura barroca é uma peça muito valorizada, pois é uma cultura antiga, mas na atualidade o pessoal está se esquecendo um pouco do Barroco. Meu pai também só faz nessa linha barroca.
Houve uma época que quis passar para uma peça mais contemporânea, mas vi que acabava me perdendo e não fazendo o que realmente gostava. No caso das esculturas em Barroco eu conseguia dar expressão a peça, já na moderna não, porque é uma linha mais fina, preferi continuar no Barroco porque conseguia expressar como eu estava no momento de fazer as esculturas.
LB – Como é processo de criação de uma peça?
GM – Hoje nós conseguimos através de fotos, por exemplo, uma Nossa Senhora da Conceição, a imagem tradicional tem cinco anjos e uma cobra na base dela, tem uma lua e mão está sobre o peito, o que temos de início é isso e o resto é com a gente. A nossa linha é de criação, que no caso é a identificação que a gente deixa na peça.
No caso, se hoje tem uma peça minha em Curitiba com outra pessoa, essa pessoa sabe que foi o Guilherme que fez por causa da linha característica que há em qualquer peça que a gente faz. Nós só pegamos o básico da peça, outro exemplo, o São Francisco, o protetor dos animais, uma peça simples, vemos mais ou menos a ideia de como ele era na época e colocamos alguns animais, o manto, tudo é a gente que faz, a criação da gente é essa.
LB – De onde vem a matéria-prima para o seu trabalho?
GM – Hoje trabalho com argila industrializada, mas antes eu trabalhava com o barro que cortávamos com enxadas em beiras de rio, levávamos até o nosso ateliê e tinha todo um preparo, uma curtição da argila para poder ficar no ponto de trabalhar, porque sempre vinha com sujeiras no barro, como pedras, mato. Tínhamos que amassar o barro com o pé, porque não tínhamos máquina ainda, então passava por um processo antes de poder trabalhar com ele.
Atualmente, uso argila industrializada que é um material ótimo de se trabalhar, tanto pela qualidade da argila quanto que depois daqui a gente ainda consegui ter uma tonalidade: branca, vermelha ou preta. Lá nós só tínhamos a tonalidade vermelha, pois era apenas um tipo de barro que a gente trabalhava. Como essa é industrializada, eles colocam produtos químicos na argila para que depois da queima ela consiga ter uma tonalidade.
LB – Do começo ao fim, como é o processo de produção de uma peça?
GM – O processo de fabricação da peça é feito por etapas. Meu trabalho especificamente é oco, então a gente começa pela base, espera secar um pouco para poder suportar o peso que vai em cima da base, e essa espera é constante, tem que esperar secar o corpo da peça para poder colocar braço, cabeça e depois vem o acabamento final.
O processo dura em média de 15 a 20 dias cada peça, por causa de ser por etapas não posso ficar um dia todo só numa peça porque tenho que esperar secar. Normalmente, costumo trabalhar com quatro, cinco peças de uma vez, estou fazendo uma, espero secar, vou para outra para poder ter uma produção e dar conta de todos os serviços que chegam para mim durante o mês.
LB – Como vocês aprenderam a utilizar o forno para a queima da argila?
GM – Por experiências das pessoas antigas que foram passando de pai para filho. Os meus avôs criavam seus próprios fornos, só que não era uma coisa muito certa, porque lá nós trabalhávamos com um forno que não era bem isolado. Nós queimávamos num forno a lenha e perdíamos muito combustível pelo fato de ele ser aberto em cima, para a gente poder conseguir atingir uma temperatura mínima de 900º C, nós precisávamos de no mínimo dois metros de madeira.
LB – Atualmente, como é o forno que vocês utilizam?
GM – Hoje, eu tenho um forno isolado, trabalho com tijolo comum, com a manta e com o tijolo refratário, é o mesmo processo de forno que meu avô utilizava, mas bem mais moderno e isolado para eu poder ganhar no combustível. Atualmente, para você conseguir uma madeira para queimar está complicado, pois, não podemos queimar com madeira de lei pelo fato do meio ambiente, que é uma coisa que desmata muito.
Procuramos cavacos, restos de madeireiras, o eucalipto é uma madeira que não é de lei, é uma madeira que veio de fora e que está expandindo a cada dia, algo que para o meio ambiente é muito ruim, mas a partir disso queremos ter um forno a gás ou a diesel, então vamos tentando criar uma coisa sobre isso. Com o forno que eu utilizo hoje, nós temos uma média de 24 horas de queima.
LB – Como é o processo de queima da argila?
GM – Nós começamos a queimar aos poucos, até atingir oito horas de forno para poder colocar o fogo, que a gente fala “a chama” para poder chegar a temperatura de 1260 ºC. É um processo lento também, que num deslize da gente podemos levar tudo a perder, porque se colocamos fogo demais a peça que está dentro do fogo não suporta a pressão, então pode vir a começar a estourar depois e vai todo o trabalho por água abaixo. Temos que manter a calma, a tranquilidade e ter paciência na hora de queimar, que ali você pode estar colocando tudo a perder. Depois de um trabalho bem feito, demorado, esperar secar, temos que ter todo um cuidado na queima.
LB – O que a queima proporciona a peça?
GM – Como ela foi queimada, ela fica seca como uma pedra. Se ela absorver água, com o sol ela vai evaporar, no caso de uma argila quando não é queimada se você colocar água constantemente, em certos locais ela vai começar a se deformar. Porque a argila depois de seca, se ela não passar pelo processo da queima, pegou água novamente ela começa a se desmanchar. O processo da queima é o que dá resistência ao barro para ele poder resistir, se você tiver cuidado ele vai permanecer por muito tempo.
LB – Depois da queima a peça já está pronta ou vocês executam mais algum procedimento?
GM – Normalmente o nosso trabalho é vendido natural. Eu tenho um compromisso com o meu cliente de entregar a peça natural, no caso, na cor da argila: branca, vermelha ou preta. A preta eu utilizo mais para fazer a Nossa Senhora de Aparecida que é para eu não pintar, então tento manter o natural da argila depois de queimada. Então, como eu tenho a opção de poder escolher a cor da argila depois da queima para nossa senhora eu optei pela argila preta e no manto colocar vermelho ou branco, ai vai muito da criação do artista.
LB – E se alguém quiser uma imagem pintada?
GM – Se caso alguma igreja queira alguma peça pintada, então tenho algumas indicações de pintoras que são amigas minha que fazem a pintura barroca, que tem todo um conhecimento para aplicar na minha peça, porque eu também não posso colocar qualquer tinta na minha peça, fazer qualquer pintura, porque daí iria desvalorizar o meu trabalho depois de pronto.
Eu tenho que procurar uma pessoa que seja especialista no que faz para poder valorizar mais ainda o meu trabalho juntamente com o que ela faz. O processo de pintura já é uma parte a gosto, posso dizer que 80% das pessoas para quem eu vendo preferem o natural da peça, porque ela depois de queimada ela consegue resistir a sol, chuva.
LB – E essas peças que você tem aqui foram pintadas por quem?
MG – Essas peças são minhas, mas pintadas por minha colega que se chama Ângela, ela é uma boa restauradora lá de São Paulo. Ela tem alguns quadros que coloca lá no MASP, a mãe dela vinha há muito tempo expondo na feira do MASP, então ela recebeu um convite para expor um trabalho dela dentro do Museu do MASP, ela é uma pessoa ótima de se trabalhar.
LB – Há quanto tempo você participa do Revelando São Paulo?
MG – Ano passado foi meu primeiro ano em Atibaia, depois participei em São José dos Campos e São Paulo. O Revelando São Paulo para a gente que mexe com esse tipo de escultura é uma porta a mais para mostrar nosso trabalho. O Revelando dá muito incentivo para a gente, apóiam, tem aquela questão de ir para uma feira sem ter preocupação de comprar estande, de se hospedar.
AC – Quais são as diferenças de outras feiras em comparação com o Revelando?
LB – Nas outras feiras, nós que somos artesões temos que ficar preocupados em querer vender para pagar tudo isso, para depois começar a ganhar o nosso pão realmente. Porque nós entramos numa feira já com dívidas e no Revelando já é ao contrário, você entra na feira muito tranquilo pelo suporte que eles dão para nós expormos e mostrarmos nosso trabalho.
Minha preocupação no Revelando não é vender, é mais mostrar o meu trabalho, claro não quero ser hipócrita de dizer que não quero vender. Fico muito feliz de ver quando as pessoas chegam ao estande e olham meu trabalho, e ficam muito encantados pelo fato de eu ser uma pessoa jovem e fazer o meu trabalho como eu faço. É muito difícil de se encontrar, se dedicar de 12 a 16 horas por dia para fazer o trabalho que eu faço, pela minha forma de vida essas pessoas acabam ficando encantadas. Esse reconhecimento que eu vejo é minha força de vontade para eu poder continuar nesse mercado a cada dia mais.
O Revelando São Paulo é um ambiente maravilhoso e pretendo participar durante vários anos, se for o caso completar 10 anos de Revelando São Paulo, é uma das minhas metas. A cada dia isso aqui está crescendo e Atibaia está começando a ser uma feira já reconhecida como a da capital e a de São José dos Campos, logo Atibaia vai começar a ter mais reconhecimento e a tendência é mais pessoas estarem visitando o meu estande e conhecendo o meu trabalho, essa é a oportunidade que eu tenho no Revelando São Paulo.
LB – Você realiza trabalhos com outra linguagem?
GM – Não é só a escultura mesmo, assim a única coisa que eu fujo um pouco do que faço é que às vezes eu tento fazer um utilitário diferenciado do que tem no mercado, deixo um pouco do Barroco de lado e vou tentar fazer alguma coisa moderna. Às vezes dou uma fujidinha do Barroco para fazer uma peça moderna, porque estamos vivendo no século XXI e o Barroco já está sendo um pouco esquecido por algumas pessoas, são poucas pessoas que compram a escultura de um santo.
Hoje você não vê um jovem sentar aqui e se interessar por uma peça de um santo. De vez em quando eu tento criar uma coisa nova, me dá prazer às vezes poder criar algo fora do Barroco, porque nesse estilo é muita Nossa Senhora, anjo e você não pode criar muito em cima de uma Nossa Senhora da Conceição, porque daí vai fugir da tradição dela, tento manter aquilo. Uma forma de me expressar é quando eu faço uma coisa diferente fora do Barroco, é quando eu consigo me realizar e fazer um trabalho diferente.
LB – Qual é seu maior sonho?
GM – Meu sonho um dia é ser um arquiteto porque quando eu morava em Pernambuco junto com meu pai, fiquei fascinado. O arquiteto tem aquela questão, ele faz o projeto leva para a gente fazer, nós fazemos tudo, ele só pega o nosso trabalho e leva, coloca numa casa, numa loja, ganha muito em cima da gente e não é nosso nome que fez tudo que vai na peça dele, é sempre o nome do arquiteto.
Falei para o meu pai “vou estudar para ser arquiteto porque ai eu vou poder projetar o meu trabalho, fazer e poder vender, porque daí ninguém vai poder desvalorizar o meu trabalho”. Se eu precisar, ele vai estar me apoiando, só que para eu entrar numa faculdade e tenho que estudar e juntar dinheiro. Eu não tenho condições de pagar uma faculdade e o tempo para eu estudar para entra numa faculdade pública seria muito complicado porque eu me dedico muito à escultura.
Na escultura é onde eu consigo acabar com meu estresse, esquecer os problemas da minha família, de ver a situação como vivem e nem ao menos poder fazer nada, então a escultura me realiza de outra forma. Eu decidi persistir nas esculturas que é uma forma de ser reconhecido, conseguir ganhar dinheiro e dar uma vida confortável a minha família.
Contato: Guilherme Barbosa de Morais
guilhermemorais.arte@hotmail.com / guilhermemorais.arte@gmail.com
(11) 4405-7482 (fixo) / (11) 9755-3219 (cel)
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Máscaras do Carnaval de Atibaia 2012
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
"Arte e Sustentabilidade"
O artista Silvio Alvarez de Joanópolis foi um dos expositores no V Festival de Cultura Tradicional Paulista - Entre Serras e Águas de Atibaia de 2012
Agregando toda a diversidade de tradições étnicas e religiosas, aconteceu do dia 05 a 08 de Janeiro o V Revelando Entre Serras e Águas de Atibaia no Parque Edmundo Zanoni. A festa abriga o que há de mais tradicional na cultura paulista, representada pelos bens imateriais: o artesanato, a culinária, entre outras tantas manifestações da cultura popular.
No estande de artesanato de Joanópolis, um dos expositores era o artista Silvio Alvarez que faz quadros utilizando colagem, em que cria cenas surrealistas com pequenos recortes de revistas.
Silvio Alvarez tem 45 anos, nasceu
Confira o Bate-Papo com Silvio Alvarez:
AC – Você tem esse contato com a arte desde criança?
SA – Não. Eu nunca poderia imaginar que eu seria artista plástico, porque eu não tenho nenhuma referência e também não sei desenhar nem pintar, e a gente acaba ligando a arte só a isto. Eu sempre gostei da área de cultura, gostava muito de música, fui trabalhar com teatro, fiz teatro infantil, mas eu sempre ficava mais nos bastidores do que provavelmente como artista. Acho que havia algo mal resolvido nisso, talvez fosse uma vontade que eu tinha que acabou sendo realizada também, eu não queria ficar atrás das cortinas, eu queria aparecer.
AC – Como foi essa nova empreitada de coordenar uma oficina para crianças?
AC – Quais outros benefícios a arte pode proporcionar as crianças?
SA – Tem outros componentes, tem a parte quando a criança usa a tesoura e também se vê criadora, ela tem ai todo um conteúdo pedagógico importante. Hoje, estamos cada vez mais ouvindo sobre arte terapia e a necessidade da criança ter referência artística, não só artes visuais, mas teatro, música. Outro dia eu ouvi de uma professora que há 20 anos promove um concurso cultural de crianças e ela me disse algo que acho muito importante, se uma criança toma contato com a arte desde cedo, ela tem uma chance maior de ser uma pessoa feliz.
AC – Qual a importância da arte?
SA – A arte está presente na vida do ser humano desde os primórdios, isso naturalmente, então deve ter uma razão importante para ela ter esse papel. Procuro também além de fazer meu trabalho, ligar tanto o conteúdo de sustentabilidade quanto o conteúdo terapêutico, eu dou oficinas para pós-graduandos em arte terapia, para a área de pedagogia, para professores, já dei uma oficina no Presídio de Viana no Espírito Santo, já dei oficina para dependentes químicos e em cada setor, em cada área, você vê que não é só a colagem, mas a arte tem um papel muito importante.
AC – Qual o papel do artista na sociedade?
SA – Talvez a arte e os artistas não estejam sendo bem aproveitados pela sociedade, porque o papel do artista tem que crescer cada vez mais e não só vender quadros, ele tem um papel social também, é importante reforçar sempre isso, principalmente junto as crianças. Eu procuro colocar nos meus quadros elementos lúdicos, elementos que remetem ao universo infantil, além de eu ser meio “crianção”, eu faço isso também pensando em atrair a criança para que ela se veja potencial criadora. Percebo que dá certo, porque a criança quando se vê retratada no quadro, ela vai tentar repetir em casa, na escola e nisso você está fazendo uma conexão da criança com a arte, pode parecer um pouco clichê, mas acho que isso numa escala maior, muita gente fazendo a mesma coisa, isso pode mudar muito a nossa sociedade.
AC – Há quanto tempo você dá aulas?
SA – Há uns quatro anos, mas hoje eu percebo que estou me profissionalizando cada vez mais. Eu escuto muito educadores, pedagogos e eu desenvolvi nesse ano de 2011, um projeto para a cola Pritt, em que eu criei um formato de oficina. Eu tinha que definir qual o tamanho que a criança ia fazer, em que tempo, como propor isso a ela e tudo isso foi apresentado para profissionais de pedagogia. Eles aprovaram o formato, me orientaram também, para que isso tivesse um respaldo profissional, porque eu sou artista plástico, eu não sou educador, mas percebo que a criança procura atividade manual, se ela não está fazendo mais é porque não estão dando referências a ela.
AC – Como é seu processo de produção de uma obra?
SA – O quadro vem pronto na minha cabeça, pelo menos a imagem que eu quero fazer, a cor do céu, a cor da vegetação, que elementos vai ter, já me vem o tema central na cabeça, depois eu preciso procurar as imagens nas revistas. Como eu tenho 15 mil revistas em casa, então quando eu vou procurar, procuro material para 20, 30 quadros de uma vez e já tiro tudo que eu preciso para não perder tempo.
Procuro todas as imagens que vão caber dentro do meu quadro, depois que tenho tudo selecionado, dou uma olhada nas páginas de revista que eu arranquei para ver o que vai e o que não vai, com tudo selecionado, recorto tudo e coloco em bandejas de isopor, separados por tamanho e cor para facilitar, e depois começo a colar. O que demora não é a colagem, eu fiz um quadro aqui em um dia, mas levo pelo menos uma semana para recortar todo o material e posso levar de um a dois anos selecionando figuras.
Tem um quadro que estou preparando agora que é uma releitura do “Jardim das Delícias” do Bosch e vai ter um metro e meio por um metro e meio. Já estou selecionando imagens há dois anos, por isso que não dá para você produzir muito, mas essa procura é importante, você procura uma imagem depois você acha outra melhor e troca.
SA – Eu tomei contato com a Arte Postal há três, quatros anos, mas nunca me interessei de fazer, porque talvez eu não entendesse bem a proposta. Sabia a história, sabia como é que funcionava, mas também acho que faltava oportunidade. Até que no Facebook e no Twitter que eu navego muito, começaram a aparecer muitas “convocatórias” e a primeira que eu aceitei veio da Bélgica, que me chamou a atenção porque era para apresentar o surrealismo para as crianças numa biblioteca. Achei bacana, porque meus quadros são surrealistas, pensei “vou participar”.
Depois que comecei eu não quis mais parar, participei no ano passado da Mostra Cinema em Diversidade do Cineclube
AC – Como a internet auxilia no seu trabalho?
SA – Não faz tanto tempo assim que comecei a lidar com a internet. Em 2004, me apresentaram o Orkut e nessa época eu ainda não tinha ideia de trabalho por essa rede social. Depois surgiu o Twitter e ele me mostrou que se você não estiver conectado, você está perdendo muitas oportunidades de negócios, quando falo negócios é palpável. Por exemplo, eu estou no Twitter a pessoa entra e escreve “gostei de tal quadro do seu site” e eu respondo por mensagem, ela me passa o e-mail, me manda um sinal ou as vezes o valor total do quadro numa grande confiança. Eu fico twitando das 8h da manhã até a hora de dormir, tudo o que faço publico no Twitter, até coisas pessoais de casa ponho no Facebook, e acho que as pessoas acabam te conhecendo um pouco.
A internet é importante porque ela rompe fronteiras. Hoje eu fotografo um quadro ou até o processo de criação e coloco na internet, quem está me seguindo no Twitter ou está no Facebook, está vendo na hora em outro país, do outro lado do mundo, é louco. Um dia eu estava na internet e uma revista de fotografia da França, entrou em contato em francês, apelei para o Google Translate, fiz uma entrevista em francês e até já saiu, se eu não estou na internet, eu nunca conseguiria isso, acho isso muito bacana. Eu costumo brincar que não sei como é que os outros artistas faziam na época que não tinha internet, porque você tinha essa proximidade com o público, só em exposição.
A internet também vai de encontro com uma ideia minha, eu acho que o caminho da arte é sua democratização, as exposições que eu realizei até hoje foram no metrô, no Terminal Rodoviário do Tietê. Hoje estamos aqui numa feira tradicional, isso é muito importante, a partir do momento que você tira a arte do museu e você leva para a criançada, para o público em geral, você está tirando aquela distância de que arte é uma coisa elitista de que tem que estar trancafiada no museu, porque ainda existe esse mito. O contato com arte também é muito recente, agora que o poder público, a iniciativa privada está colaborando para gente ter mais acesso. Eu tenho 45 anos e quando eu era moleque não me lembro de ter tanta opção assim, tanto que não me lembro na escola de ter ido a alguma Bienal ou no Masp.
AC – Quais são seus projetos para o futuro?
SA – Eu quero continuar fazendo oficina, porque eu vi que não vivo mais sem esse contato com a criançada, então eu quero potencializar isso, amplificar. Em abril sai meu primeiro livro como ilustrador que vai se chamar “Olhos da Terra” e é da escritora Ana Maria de Andrade, tem ilustrações minha e de um fotógrafo chamado Fábio Carnaval. No ano passado eu mandei quatro quadros para a feira Art Shopping do Carrousel do Louvre, foi em Outubro e iniciei todo um projeto para eu estar presente agora nesse ano. A ideia é ficar no Carrousel do Louvre durante três dias fazendo o que estou fazendo aqui, cortando, estou trabalhando para isso, tenho uma produtora cultural planejando essa empreitada que vou contar com o apoio das leis de incentivo e acho que vai ser importante também para você ver como que seu trabalho é visto fora do país.